O
sol da Paraíba talhou a identidade profissional de José Jacenildo dos
Santos. Na roça, em Serra de Cuité, ele exercitou as mãos pela primeira
vez para ajudar o pai a sustentar os 19 irmãos. Sessenta anos depois, em
um luxuoso casarão de 450 metros quadrados em São Paulo, elas não
guardam qualquer resquício de terra por debaixo das unhas. Mas preservam
as habilidades que o transformaram em Jassa, o cabeleireiro mais famoso
do Brasil.
"Aos
sete anos virei engraxate. Aos 12 papai pediu para eu mudar de
profissão porque eu trabalhava no sol e, como barbeiro, eu trabalharia
na sombra, em condições melhores", conta, enquanto contempla a praça
particular que acabou de construir em seu novo salão, um empreendimento
cujo valor do investimento o deixa crispado. "Não digo quanto eu gastei,
mas recebi proposta de R$ 8 milhões para vender a metade e não quis",
revela, com uma pontinha de orgulho e um sorriso. A trajetória de Jassa,
inclusive, ultrapassa as máximas pré-estabelecidas pelas cartilhas de
administração e gestão.
O
empreendedorismo não foi uma escolha. Por necessidade, aprendeu o
ofício que o tirou da pobreza e o fez realizar o sonho nordestino na
maior capital do País. "Quando eu me entendi por gente me perguntei: o
que sei fazer? ‘Sei cortar cabelo e estou sobrevivendo com isso’,
respondi a mim mesmo. Então, investi naquilo que eu dominava", relembra.
Jassa
correu atrás do que a vida pobre o privou e foi buscar capacitação.
Viajou, fez cursos no exterior e conseguiu lapidar a técnica e aumentar
ainda mais a intimidade com as tesouras. Em doze anos, ganhou autonomia e
quilometragem nos negócios. Trabalhou como empregado em vários salões
de beleza da cidade até conhecer o apresentador Silvio Santos, em 1976.
Na época, ele já havia conquistado clientes importantes, tinha carro do
ano na garagem e apartamento próprio.
"Fui
convidado para fazer o penteado da Nicete Bruno e do Paulo Goulart no
Teatro Arena. Naquele dia, o relações públicas das Confecções Camelo – a
marca vestiu Silvio Santos por mais de 30 anos – passou lá e também dei
um jeito no cabelo dele. Quando eles se encontraram para uma reunião, o
Silvio viu, gostou do resultado e quis me conhecer", conta. Começava
ali uma parceria que já dura quase 40 anos. Para Jassa, o retorno
alcançado ao cair nas graças do apresentador foi imediato.
"Eu
ganhava o equivalente ao que hoje seria R$ 2 ou R$ 3 mil. No primeiro
mês em que o Silvio começou a falar de mim na TV, passei a ganhar R$ 60
mil", lembra. Com dinheiro no bolso, Jassa teve que aprender a lidar com
a visibilidade e não descuidar do negócio.
"A
estrutura era pequena e como o faturamento estava aumentando, eu tive
condições de me instalar na Rua Iguatemi, onde fiquei por 34 anos",
explica. "Lá, o salão começou pequeno e chegou aos 240 m². A medida que o
trabalho aumentava, eu contratava mais funcionários e ao longo do tempo
fui aprendendo a lidar com mais gente", revela o empreendedor.
Entre
um corte e outro, o cabeleireiro aprendeu também a extrair ensinamentos
das conversas com os clientes, muitos deles políticos e empresários
famosos no País. "Eu tenho uma gama enorme de professores e me espelho
nos vencedores. E se ele for um empresário perdedor, aproveito para ver
os erros que ele já cometeu", ensina.
Estadão
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